terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Doping

A atual definição de doping pela AMA (Agência Mundial Antidoping) envolve três requisitos: aumento artificial da performance, risco à saúde do atleta e contrariedade aos valores do esporte. Quando dois deles estão presentes, o doping é confirmado. A história do doping se funde com a utilização de drogas para o aumento de desempenho físico e mental, para uso laboral, esportivo ou recreativo. Os primeiros registros datam 3.000 anos antes de Cristo, com o uso do ópio pelo povo sumério. No mundo esportivo, o primeiro registro foi durante os Jogos Olímpicos da Antiguidade (Grécia 300 a.C.). Nessa ocasião, um alucinógeno de cogumelos foi utilizado para o aumento da coragem e da agressividade, visto que os esportes disputados naquela época envolviam essas habilidades. Passando pelo uso de mahuang e mandrágora na China, haxixe e THC pelos Árabes, folhas de coca na América e de cafeína na Europa, historicamente o doping chegou ao ciclismo em 1879, na volta ciclística de seis dias (França), com a mistura de cafeína, éter, álcool e nitroglicerina. Sete anos mais tarde, na Corrida Ciclística de 600 Km (França), um atleta inglês faleceu devido ao uso indiscriminado de estimulantes. O grande impulso no consumo de drogas no meio esportivo ocorreu a partir da sintetização de anfetaminas (estimulantes), em 1919, e dos esteróides anabolizantes, em 1935. Muitos soldados que utilizaram os medicamentos na Segunda Guerra Mundial, ao regressarem aos seus paises, tornaram-se atletas ou treinadores, e se encarregaram de difundir o consumo. Assim como o ciclismo foi um dos pioneiros no uso do doping, também foi no controle de doping. A Federação Ciclística da Bélgica, em 1965, tomou uma iniciativa fundamental: iniciou a divulgação dos resultados dos seus controles positivos, em meio a protestos de varias entidades esportivas e grupos de atletas, em uma época de muita polemica em relação à adoção aos procedimentos de controle. O controle de doping luta contra esse déficit histórico, visto que as primeiras publicações do Comitê Olímpico Internacional sobre os esteróides anabolizantes datam de 1939, além da primeira Comissão Antidoping ter ocorrido somente em 1967. Nos Jogos Olímpicos de 1968, estimou-se que 33% dos atletas utilizaram substâncias proibidas. A fim de combater esse mal, a criação da Agência Mundial Antidoping, em 2003, foi um esforço bem sucedido das autoridades esportivas. A AMA unificou as iniciativas em favor do progresso dos métodos de controle de doping, das regras internacionais e de uma maior atuação em pesquisa, prevenção e controle de doping. As federações internacionais se comprometeram em se adequar à legislação internacional até os Jogos Olímpicos de Atenas e os governos federais ligados ao COI, até os Jogos Olímpicos de Inverno de Torino, em 2006. Em relação ao chamado "doping de alta tecnologia", a AMA patrocina pesquisas para detecção do doping genético há alguns anos, prevendo que esse será o próximo passo na corrida ao ganho desonesto de desempenho atlético, o que atualmente ainda não ocorre. A manipulação dos genes poderá permitir ganhos fabulosos, uma vez que permitirá expressar proteínas que comandam diversas característica físicas, como massa muscular e de gordura, tipos de fibras musculares, tempo de reação e volume sanguíneo, com grande impacto positivo no estabelecimento de novos recordes considerados artificiais. SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL X DOPING A primeira controvérsia entre suplementação e doping ocorreu em Roma, no ano zero, com uma mistura de água, mel e aveia, fornecida a cavalos com a intenção de melhorar o desempenho físico. Tal mistura foi proibida pelo imperador Octavius Augustos, que a considerou um artifício injusto (portanto, uma espécie de doping). Na realidade a mistura proporcionava ao cavalo um aporte de proteína e de carboidrato e uma melhor hidratação. Atualmente, tal produto seria considerado uma espécie de suplementação alimentar. A controvérsia entre doping e suplemento esportivo te, portanto mais de 2000 anos e ainda hoje é motivo de dúvidas entre a população e mesmo entre atletas. O termo suplemento alimentar foi oficialmente substituído por complemento nutricional pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. É definido como um produto elaborado com a finalidade de complementar a dieta cotidiana de uma pessoa saudável, que deseja compensar um possível déficit de nutrientes, a fim de alcançar os valores de Dose Diária Recomendada (DDR). Devido à ocorrência de casos positivos de doping em que os atletas alegavam que foram contaminados pelo uso de suplementos, o Comitê Olímpico Internacional patrocinou, em 2000, um estudo realizado pelo Laboratório de Cologne, na Alemanha. Foram analisados 634 suplementos alimentares, obtidos em 13 paises. Foi encontrada a média 14,8% de suplementos contaminados com substâncias consideradas doping. Entre esses, a contaminação foi principalmente por nandrolona, testosterona e outra substâncias pro-homonais (24,5%). O COI reconhece a importância da suplementação no rendimento esportivo através do documento "IOC Consensus Statement on Sports Nutrition". Apesar disso, a Agência Mundial Antidoping (AMA), em cartilha distribuída durante os Jogos Olímpicos de Atenas, desaconselha o uso de suplementos alimentares devido ao risco de contaminação. Visto que a presença da substancia proibida na amostra do atleta caracteriza o doping, a punição ocorre independente de sua intenção. Cabe ressaltar que até hoje não foi encontrado qualquer caso de doping com o uso de suplementos nutricionais do Brasil. Essa é a recomendação que deve ser feita nos consultórios de medicina do esporte ou de nutrição em nosso país: se for consumir suplementos, utilize somente aqueles fabricados pela indústria brasileira. DOPING E CONTROLE DE DOPING A atual definição de doping pela AMA envolve três requisitos: aumento artificial da performance, risco a saúde do atleta e contrariedades aos valores do esporte. Quando dois deles estão presentes, o doping é confirmado. Essa definição é mais abrangente que as anteriores, o que permite mais facilmente as autoridades a inclusão de novos métodos ou substâncias. O uso de drogas sociais, que nem sempre envolvem aumento de performance, também é considerado doping. O controle de doping ocorre em duas situações: em competição e fora dela. A amostra biológica utilizada é sempre urina, com controle sanguíneo em ocasiões especiais, como "screening" ou para pesquisas. Os controles em competição se dão entre os vencedores. Logo após a premiação, os atletas são notificados do procedimento e começa um procedimento padronizado de coleta de informações, como a identificação e o conhecimento de medicamentos e suplementos utilizados nos últimos dias. O controle fora-de-competição ocorre de surpresa. O atleta pode ser surpreendido no domicilio ou no lugar de treinamento a qualquer dia do ano, em qualquer horário. O procedimento técnico é o mesmo do controle em competição. Essa iniciativa ocorre para coibir o uso de substancias enquanto o atleta está somente no período de treinamento, longe das competições onde normalmente há controle. Todas as amostras são enviadas a um laboratório reconhecido pela AMA e pelo COI. O Brasil tem um laboratório, o LADETEC, da Universidade Federal do Rio e Janeiro, que é reconhecido oficialmente e está apto a realizar os procedimentos de diagnóstico. Uma vez considerada a amostra "A" positiva, o atleta é notifica para acompanhar a abertura da amostra "B" (as duas são coletadas na mesma ocasião). Se a amostra "B" é positiva, o caso é levado a julgamento e o atleta sofre uma punição, normalmente dois anos de afastamento do esporte competitivo. Se ocorrer reincidência, o atleta é banido do esporte. O rigor do Código Mundial Antidoping demonstra a intolerância das autoridades esportivas contra trapaça. Uma vez que o atleta inicia seus treinamentos, ele deve ter a certeza de que vence o melhor e não o mais preparado farmacologicamente. Coibir o doping é um exemplo para a sociedade, visto que os valores do esporte e dos ideais olímpicos são exemplos para humanidade e também símbolos de saúde. O jogo limpo deve ser preservado acima de qualquer interesse comercial e financeiro.

SAIBA MAIS SOBRE DOPING E CONTROLE DE DOPING:
Confederação Brasileira de Atletismo www.cbat.org.br/anad/default.asp
Comitê Olímpico Brasileiro www.cob.org.br
Agência Mundial Antidoping www.wada.-ama.org
(inglês ou francês) homepage com artigos sobre doping.
Dr. Rafael Trindade - www.probiotica.com.br
Texto original publicado na Revista Bike Action, edição número 57 (maio) de 2005.

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